2015-09-20

O que Jesus fez dos 12 aos 30 anos?


“E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” Lucas 2.52

Nesta lição, devemos informar aos alunos que não existe nenhuma narrativa extensa sobre a infância de Jesus na Bíblia. E se não está na Bíblia, principalmente nos Evangelhos, não há outra fonte digna de confiança e merecedora de crédito quanto à narrativa da infância de Jesus Cristo narrada nas Sagradas Escrituras.
Com essa afirmação queremos dizer que não há informação digna de confiança porque os documentos extras bíblicos, que reclamam tal status, e tentam dar conta desse lapso de tempo da infância de Jesus, são bem posteriores aos Evangelhos, e foram influenciados pelo gnosticismo, uma heresia combatida pela Igreja do primeiro século, fundamentalmente por intermédio das cartas apostólicas.

Em segundo lugar, por falta de material sobre a infância de Jesus, muitas são as especulações sobre ela, não contribuindo em nada para o nosso conhecimento sobre o Senhor e a sua história como menino.
É importante ressaltar na ministração da lição, a intenção do evangelista em destacar a infância de Jesus. Ao analisarmos o contexto das passagens que envolvem a infância e a adolescência do nosso Senhor, vemos que Lucas não tem o objetivo de descrever a infância de Jesus numa perspectiva biográfica. Embora haja dados biográficos no conteúdo, os Evangelhos não são relatos preponderantemente biográficos. E não apresenta uma preocupação cronológica com a estruturação das narrativas, embora o escrito lucano seja considerado, entre os Evangelhos, o mais cronológico.

O Evangelho de Lucas narra tudo o que sabemos sobre a infância e a adolescência de Jesus. O objetivo de o evangelista narrá-lo é o de apresentar a paternidade divina de nosso Senhor, pois Ele foi concebido no ventre de Maria pelo Espírito Santo. Nessa narrativa está presente "o anúncio do anjo Gabriel a Maria sobre o nascimento de Jesus (Lc 1.26-38)"; "a história do nascimento de Jesus e a presença de anjos juntamente com os pastores de Belém (Lc 2.1-20)". Nosso Senhor foi uma criança comum, crescendo e desenvolvendo-se como qualquer criança da Antiga Palestina. Assim o texto lucano destaca a humanidade do nosso Senhor desde a tenra infância: "a apresentação do menino ao Senhor no Templo (Lc 2.21 -40)"; "e a única história do texto bíblico sobre Jesus na adolescência" (Lc 2.41-52). Portanto, a narrativa do nascimento de Jesus Cristo está alocada no Evangelho de Lucas como uma introdução de quem é a pessoa do meigo nazareno, destacando sua paternidade divina e a sua característica humana.


COMENTÁRIO
Não temos muitas informações a respeito da infância de Jesus. Os Evangelhos são nossas únicas fontes confiáveis a respeito dessa fase da vida do Mestre. O Evangelho de Lucas nos mostra que, como Homem Perfeito, Ele experimentou um desenvolvimento saudável, como de qualquer criança de sua idade. A única diferença entre Jesus e os meninos de sua época era o fato de que Ele não tinha pecado.
Lucas também registra um incidente da infância do menino Jesus. Por meio desse incidente, podemos ver que, aos doze anos, Jesus já tinha plena consciência de sua relação com o Pai e acerca de sua chamada.


INTRODUÇÃO
Os Anos Perdidos de Jesus
Há algum tempo encontrava-me manuseando um livro em uma livraria em Curitiba (PR), quando um senhor se aproximou de mim. Após se identificar como um teólogo tomou a iniciativa na construção de um diálogo. Através de sua fala tomei conhecimento que possuía uma sólida formação acadêmica, visto ter se formado em um conceituado Seminário evangélico brasileiro. Contou-me que a sua fé estava sofrendo uma reviravolta porque, segundo disse, estava convencido de que o ministério de Jesus não havia se limitado às terras bíblicas, porque, de acordo com suas leituras, Jesus não teria se limitado a ficar na palestina mas teria ido até a índia. Ali teria estudado com os monges e trabalhado a sua espiritualidade! Perplexo, perguntei-lhe em que se baseava para fazer uma afirmação tão ousada! Procurando ali mesmo nas prateleiras daquela livraria ele encontrou o livro que o havia convencido a mudar de ideia. O livro falava algo tipo: Os Anos Perdidos de Jesus.

1 A busca pelos supostos “anos perdidos de Jesus” tem sido objeto de estudo de milhares de escritores em todo o mundo. Católicos, protestantes, espíritas, ateus, agnósticos, artistas e cineastas tem feito um esforço enorme para recontar a história de Jesus de Nazaré.

2 Alguns se atêm ao registro neotestamentário, mas outros vão muito além daquilo que a Bíblia diz sobre o carpinteiro da Galileia. Para estes o registro bíblico é insuficiente, visto que a igreja institucional teria conspirado excluindo aqueles livros que continham relatos discordantes dos textos canônicos. Fundamentados, portanto, em textos não canônicos, escritos na sua maioria entre os séculos II e IV d.C., tentam descrever detalhes da infância, adolescência e idade adulta de Jesus. Procuram dar voz àquilo que a Bíblia silencia. Dessa forma seus argumentos não se fundamentam no que a Bíblia diz, mas naquilo que ela não diz. Um exemplo clássico de um autor que foi até as últimas conseqüências a esse respeito é Dan Brown, autor de O Código da Vinci, um dos livros mais lidos do mundo e que foi adaptado para o cinema. A tese de Brown, diga-se sem nenhum fundamento bíblico e histórico, é que Jesus não é o Filho de Deus, casou-se com Maria Madalena e a prole de ambos deu início a uma linhagem sagrada. [1]

As Escrituras revelam que Jesus era plenamente Deus e plenamente homem! Ao dizerem que Jesus é cem por cento Deus e cem por cento homem, teólogos cristãos estão afirmando essa mesma verdade de uma outra forma. Deus se humanizou em Cristo (2Co 5.19) e isso é conhecido na teologia cristã como o grande mistério da encarnação.
Conhecer o Jesus divino é maravilhoso e bíblico, mas conhecer o Jesus humano o é da mesma forma. Aqui, vamos aprender que Jesus cresceu como qualquer ser humano. Ele cresceu física, social, psicológica e espiritualmente. Em cada uma dessas dimensões, Ele deixou ricos aprendizados para todos nós.


I - JESUS CRESCEU FISICAMENTE
1. A DIMENSÃO CORPÓREA DE JESUS.
Ao contrário da literatura apócrifa, os textos canônicos, mesmo sendo breves em seus relatos, revelam muito sobre o lado humano de Jesus. Jesus nasceu e cresceu como qualquer outro menino da sua idade da Palestina dos seus dias.
Os teólogos e educadores Eulálio Figueira e Sérgio Junqueira ao descreverem a educação no antigo Israel no tempo de Jesus, fizeram uma excelente exposição sobre essa dimensão humana de Jesus. Eles observam que Jesus era semelhante a nós em tudo, menos no pecado (Hb 4.15), e que viveu o mesmo processo de crescimento comum a todos os homens. Como todos os homens ele cresceu nas dimensões bio-psico-social.

Lucas destaca que ele cresceu em sabedoria, tamanho e graça, diante de Deus e dos homens (Lc 2.52). Enquanto viveu em Nazaré, um vilarejo da Galileia, Jesus “crescia e ficava forte, cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava com ele” (Lc 2.40). Mesmo durante o seu ministério público, fazendo discípulos, Jesus ia crescendo em contato com o povo. Cada ser humano que nasce neste mundo, destacam esses expositores bíblicos, pertence a um determinado lugar, a uma determinada família e a um determinado povo. Nasce, portanto, sujeito a vários condicionamentos. Com Jesus também foi assim. Não há como negar que fatores culturais, tais como o ambiente familiar, a língua e o lugar onde nascemos marcam a vida de cada um de nós de forma profunda. Esses fatores são independentes da nossa vontade. No entanto, fazem parte de nossa existência, sendo, portanto, o ponto de partida para tudo aquilo que queremos realizar. Elas fazem parte da realidade de cada um. Ao viver a nossa realidade, Jesus viveu a encarnação. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14).

Os diferentes aspectos desses condicionamentos da vida de Jesus, inclusive o seu crescimento, como bem observaram Figueira e Junqueira, só se tornaram possíveis devido a sua identificação plena com a raça humana. Em outras palavras, para alcançar a humanidade, Jesus, o Filho de Deus, se fez homem como os demais. Ele nasceu e cresceu à semelhança dos demais humanos! Todavia ao assim fazer, Ele não deixou de ser Deus, nem tampouco perdeu os seus atributos. Ele, portanto, abriu mão daqueles privilégios que lhes pertenciam por ser Filho de Deus. A teologia cristã denomina essa importante doutrina bíblica de kenosis.

Paulo, o apóstolo, lançou luz sobre essa importante verdade em sua carta aos Filipenses: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2.5-11).
Ao analisar este texto, o teólogo Heber Carlos de Campos comenta:
“Quando dizemos que ele se ‘esvaziou’ não podemos dizer que ele deixou de ser o que era — Deus — mas que se colocou numa posição de alguém que ficou, por algum tempo, sem a honra devida neste mundo. Ele foi tratado entre os homens como alguém que não era visto no fulgor da glória divina. Embora ele tivesse, mesmo aqui neste mundo, todos os atributos próprios de sua divindade, sua divindade não foi manifestada de modo que todos os seus atributos fossem vistos pelos homens de maneira inequívoca.”

Esse esvaziamento humilhante na vida de Jesus, observa Campos, não foi algo fictício, mas real. Jesus não representou nada quando se humilhou perante Deus e os homens. Ele de fato tomou a condição de servo e dessa forma viveu, Foi como servo que ele foi reconhecido em figura humana, pois somente os homens podem assumir a natureza de servo.

Concluindo, diz ainda Heber Campos, “Paulo usa duas expressões que são hebraísmos: ‘tornando-se semelhança de homens’ e ‘reconhecido em figura humana’. Essas duas expressões apontam para o fato de o Redentor ser real e verdadeiramente homem. Embora a natureza humana tenha sido honrada pelos privilégios de estar unida à divindade do Redentor, a condição em que o Verbo assumiu a nossa humanidade era de humilhação. Ele a assumiu com todas as características resultantes da nossa pecaminosidade. O seu sofrimento e as suas dores não foram fictícios, mas reais, porque a sua humanidade era real. Ainda que, segundo a sua divindade, o Redentor não pudesse ser contido pelo universo, pois a sua divindade é semelhante à daquele que está acima e além do universo, não obstante, quando ele encarnou, passou a fazer parte da criação, sendo um homem como todos nós, tendo todas as propriedades que nós temos, inclusive tomando a nossa forma física. Ele não era um fantasma, com apenas uma aparência de homem, mas era de fato um ser humano como todos os outros que vieram da família de Adão, embora não tivesse sido contado como culpado.”

Entendendo o estado de esvaziamento e humilhação de Jesus passamos a compreender os condicionamentos que ele assumiu quando aqui viveu. Jesus, por exemplo, aprendeu a viver nos limites de suas dimensões: corporal; social, psicológica e espiritual. [1]

A Bíblia nos ensina que Jesus nasceu e cresceu como qualquer ser humano (Lc 2.40,52). Jesus em tudo era, semelhante a nós, mas sem, pecado (Fp 2.6,7; Hb 4.15). Como todo ser humano, Ele possuía um corpo físico que era limitado pelo tempo e pelo espaço. A palavra grega helikia, traduzida em português como estatura, no versículo 52, ocorre oito vezes no texto grego do Novo Testamento, com o sentido de tamanho ou idade. É a mesma palavra usada por Lucas quando se refere à pequena estatura de Zaqueu, o publicano (Lc 19.3) e, também, a mesma palavra usada pelo apóstolo João para se referir à idade do cego a quem Jesus curou (Jo 9.21,23). A Escritura, de forma alguma, nega a dimensão corpórea e física de Jesus como fazem as heresias.

 2. O CUIDADO COM O CORPO.
Trabalhar sem descanso; nunca tirar férias; realizar todas as tarefas difíceis relativas à atividade missionária ou ministerial, e não fazer nenhum retiro para relaxamento, reflexão e oração, simplesmente não funciona. Até mesmo Jesus, devido a sua natureza humana e a grande responsabilidade que pesava sobre os seus ombros, necessitava de períodos de tranqüilidade (Mc 1.35). E, pelo fato de conhecer completamente todas as necessidades dos seus discípulos, ele os convidou a ir com ele para um lugar solitário, onde poderiam descansar.
O que revelou a urgência da necessidade do descanso foi o fato de uma multidão tumultuada e exigente, com as pessoas constantemente indo e vindo, haver tomado até mesmo a tarefa básica de se alimentarem, uma coisa impossível. Resultado: “Foram sós”, ou seja, Jesus e os Doze, sem ninguém mais, retiraram-se para um lugar tranqüilo, na vizinhança de Betsaida Júlia. Veja Lucas 9.10 e C.N.T. sobre João, Vol. I, pp. 216, 217. Eles usaram um barco para deslocarem-se para o lado nordeste do mar. Era aquele barco o mesmo mencionado em 3.9; 4.1 e 5.2? Ou é esse um caso onde o artigo grego não deveria ser traduzido, de modo que a tradução mais exata seria “de barco”, em vez de “no barco”? A passagem paralela de Mateus 14.13 parece favorecer essa possibilidade. No entanto, qualquer uma das duas opções são boas alternativas, e traduções excelentes de ambas podem ser citadas. [2]

Como todo ser humano que possui um corpo físico, Jesus também viveu os limites dessa dimensão corpórea. Ele também se cansava (Jo 4.6). Jesus sabia a importância que tem o corpo humano e, para isso, tratava de dar o devido cuidado ao seu corpo. Para recuperar suas energias físicas, por exemplo, Marcos relata que Ele procurou o descanso necessário (Mc 6.31,32). A palavra grega anapauo, traduzida como repousar, significa “parar com todo movimento a fim de que se recupere as energias”. Se o Mestre deu os devidos cuidados ao seu corpo, não deveríamos nós fazer o mesmo?


II - JESUS CRESCEU SOCIALMENTE
1. JESUS E A FAMÍLIA.
1. Ele era sujeito aos seus pais. Embora uma vez, para mostrar que era mais do que um simples homem, Ele tivesse se afastado dos seus pais, para tratar dos negócios do seu Pai celestial, Ele não fez disto um hábito, por muitos anos depois disto, mas “era-lhes sujeito”. Jesus obedecia às suas ordens e ia e vinha conforme eles lhe diziam, e, aparentemente, trabalhava com o seu pai no ofício de carpinteiro. Ele deu às crianças um exemplo para que sejam obedientes e respeitosas aos seus pais, no Senhor. Tendo “nascido de mulher”, Ele estava sob a lei do quinto mandamento, para ensinar à descendência de crentes que assim deveriam ser para que Ele os aprovasse, como uma descendência fiel. Embora os seus pais fossem pobres e humildes, embora o seu pai fosse apenas o seu suposto pai, ainda assim Ele era sujeito a eles; embora Ele estivesse fortalecido no espírito, e cheio de sabedoria, ou melhor, embora Ele fosse o Filho de Deus, ainda assim era sujeito aos seus pais; como, então, responderão aqueles que, sendo tolos e fracos, ainda assim são desobedientes aos seus pais?

2. A sua mãe, embora não compreendesse perfeitamente as palavras do seu Filho, ainda assim as guardava no coração, esperando que no futuro elas lhe fossem explicadas, e então ela as compreenderia completamente, e saberia como fazer uso delas. Ainda que possamos negligenciar as palavras dos homens, por serem obscuras (Si non vis intelligi debes negligi - Se não for compreensível, não tem valor), não devemos pensar a mesma coisa a respeito das palavras de Deus. Aquilo que, a princípio, é obscuro, para que não saibamos o que fazer pode, no futuro, ficar claro e fácil; portanto, nós devemos guardá-lo para o futuro. Veja João 2.22. Nós podemos, em outra ocasião, encontrar uso para aquilo que não nos parece ter utilidade agora. Um aluno memoriza aquelas regras gramaticais cujo uso ele não compreende no presente, porque lhe foi dito que no futuro elas lhe terão utilidade; a mesma coisa nós devemos fazer com as palavras de Cristo. [3]

Sua perfeita obediência.
Lc 2.51 “E desceu com eles, e foi para Nazaré, e era-lhes sujeito”. Com estas palavras, informa-nos Lucas não ser a declaração no verso 49 um repúdio ao dever filial. Embora Filho de Deus, Jesus não exigia isenção de responsabilidades, obrigações e fardos da vida. Ainda na agonia da cruz, preocupou-se com o futuro de sua mãe (Jo 19.26). [4]

“Não sabemos muito sobre a família de Jesus; entretanto, fica claro, conforme o relato dos Evangelhos, que os pais, irmãos e irmãs de Jesus eram muito conhecidos na cidade de Nazaré (Mt 13.54-56). Os primeiros anos da vida de Jesus foram tão normais que as pessoas que o viram crescer ficaram surpresas com o fato de que Ele pudesse ensinar com autoridade sobre Deus e fazer grandes milagres — achavam que era apenas um carpinteiro como José”. [5]

2. JESUS E A CULTURA LOCAL.
CULTURA
Ha muitas definições da cultura, como:
1. Um empreendimento coletivo, segundo o qual os homens conseguem estabelecer um estilo de vida distinto, com base em valores comuns.

2. Aquele todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, artes, princípios morais, leis, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelos homens, como membros da sociedade,.. (B.B. Tylor).

3. A totalidade da invenção e da realização humana, incluindo todos os princípios essenciais e sobre a natureza física e o comportamento humano, bem como todas as experiências pessoais e sociais que eles têm acumulado, intercambiado e transmitido, por meio de instrumentos e símbolos.

4. Todas as expressões criativas dos homens, em todos os campos do empreendimento humano.

5. Em sentido limitado, a expressão que os homens têm conseguido nas artes liberais.

6. Essa palavra vem do latim colere, cultivar. Portanto, a cultura é um cultivo, sem importar os meios empregados para tanto.

O vocábulo não entrou na linguagem senão já no século XVIII, embora o uso possa ser percebido ao longo da história, mas expresso de muitas formas diferentes. [6]

A educação judaica era primeiramente religiosa e, até a época do Novo Testamento, dava-se em casa. Era dever do pai instruir seu filho sobre as tradições religiosas (Ex 12.26,27; Dt 4.9; 6.7).
Era essencial que a criança aprendesse a ler as Escrituras. Felizmente, o alfabeto hebraico com suas vinte e duas letras era muito mais fácil do que as centenas de caracteres cuneiformes e hieroglíficos dos vizinhos de Israel. Em Isaías 28.10, "mandamento e mais mandamento" é literalmente "s após s, e q após q", uma referência ao ensino do alfabeto. Em Isaías 10.19, lemos: "E o resto das árvores da sua floresta será tão pouco, que um menino as poderá contar". O homem jovem de Juízes 8.14 "escreveu" os nomes dos anciãos da cidade.
O ensino formal longe de casa não foi atestado até a era intertestamentária. Ben Sirach (aprox. 180 a.C.) fala de uma "casa de aprendizagem" (gr. oikos paideias, em heb. bethmidrash). Sob Jason (175-171 a.C), o sumo sacerdote helenizante, um ginásio foi estabelecido em Jerusalém (1 Mac 1.14; 2 Mac 4.9; Josefo, Ant. xii.5.1). No helenismo, o ginásio era a principal instituição educacional.

Simon ben Shetah (aprox. 75 a.C.) decretou uma lei que estabelecia que as crianças deveriam ir à escola. O desenvolvimento decisivo, entretanto, veio com a ordem de Josué ben Gamala, sumo sacerdote em 63-65 a.C, de que cada cidade deveria ter uma escola para crianças a partir de seis anos de idade.
De acordo com a declaração de Judah ben Tema (século II a.C) em Pirke Aboth 5.21, o programa de estudos a ser desempenhado era:
(a) as Escrituras - aos cinco anos;
(b) o Mishnah - tradições orais - aos dez anos;
(c) a chegada da idade - aos treze anos; e
(d) o Talmude - comentários sobre o Mishnah -aos quinze anos.
Esperava-se que os rapazes se casassem aos dezoito anos. As meninas recebiam educação em casa, e frequentemente eram feitos casamentos arranjados quando tinham doze ou treze anos. Elas iam à sinagoga, e algumas conheciam bem as Escrituras (cf. alusões do Antigo Testamento no "Magnificai" de Maria, Lc 1.46-55).

A maioria dos pais não podia permitir que seus filhos tivessem mais do que o ensino primário. Alguns rabinos desprezavam aqueles que haviam estudado somente as Escrituras, tendo-os como ignorantes, 'am-ha'arets, "pessoas da terra" (cf. Jo 7.15; At 4.13). Aqueles que estudavam para se tornarem rabinos continuavam sua educação na academia de Jerusalém, e eram ordenados com aproximadamente vinte e dois anos de idade. As classes do primário reuniam-se nas sinagogas, tendo o hazzan, ou responsável pelos rolos, como professor. O professor tinha que ser um homem casado; nenhuma mulher tinha permissão para ensinar (cf. 1 Tm 2.12). As crianças de várias idades sentavam-se no chão diante do professor. A criança aprenderia a ler as Escrituras em voz alta, começando por Levítico. Em continuação, a criança prosseguia no conhecimento da maior parte das Escrituras, embora alguns livros do AT, como, por exemplo, Cantares de Salomão, não eram ensinados aos alunos imaturos.

A ênfase era colocada na memorização, e o método era a repetição. Dizia-se que um professor do Mishnah chegava a repetir uma lição 400 vezes! Os açoites eram usados nos casos de alunos recalcitrantes. O Mishnah não considerava o professor culpado se o aluno morresse em consequência de tais repreensões. A palavra heb. para educação, musar, origina-se da raiz ysr, "castigar, disciplinar". O ensino dos meninos começava ao amanhecer e frequentemente continuava até o pôr-do-sol. Algumas pessoas têm questionado se eles tinham horário de almoço! O período de aulas era reduzido para quatro horas durante os meses quentes de julho e agosto. No dia que antecedia o sábado havia apenas meio período de aulas, e as aulas eram suspensas por ocasião das festividades religiosas. A academia de Jerusalém para futuros rabinos era famosa por ter professores como Hilel e Samai (século I a.C). Aqui Paulo estudou aos pés do ilustre neto de Hilel, Gamaliel (At 22.3). Gamaliel era um dos poucos rabinos que permitia que os alunos aprendessem o grego. Os rabinos, como regra geral, não recebiam qualquer pagamento por ensinarem, mas se sustentavam trabalhando como moleiros, sapateiros, alfaiates, oleiros etc. (cf. At 18.3). De fato, cada pai tinha o dever de ensinar um ofício a seu filho. [7]

A Bíblia afirma que o “Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). O vocábulo habitar traduz o verbo grego skenoo e tem o sentido de “fazer a sua tenda”. Deus se humanizou e fez a sua tenda ou morada entre nós. Como homem perfeito, Jesus viveu no meio da cultura dos seus dias. Fazia parte dessa cultura, qual seja, o povo, o espaço geográfico, a língua e a família. Jesus foi criado em Nazaré da Galileia e, como nazareno, Ele possivelmente espelhava a cultura desse lugar. Jesus aprendeu a ler as Escrituras (Lc 4.16); aprendeu uma profissão (Mc 6.3) e até mesmo aprendeu a maneira de falar que era peculiar dos habitantes dessa região (Mt 26.73. Mc 14.70). Todavia, um fato fica em evidência — Jesus estava pronto a confrontar a cultura quando esta contrariava os princípios da Palavra de Deus (Lc 11.38,39).

 “Os primeiros anos de vida de Jesus foram tão normais que as pessoas que o viram crescer ficaram surpresas com o fato de que Ele pudesse ensinar com autoridade sobre Deus (Lc 2.46,47) e fazer grandes milagres — achavam que era apenas um carpinteiro como José o fora antes dEle. Em meados do século II d.C., histórias imaginativas começaram a ser escritas sobre o início da vida de Jesus, afirmando que tinha poderes sobre-humanos. Por exemplo, na Infância de Cristo segundo Tomé, Ele forma passarinhos de barro e os traz à vida!” [5]


III-JESUS CRESCEU PSICOLOGICAMENTE
1. A DIMENSÃO PSICOLÓGICA DE JESUS.
Por fim Jesus também possuía as dimensões psíquica e espiritual. David Nichols sublinha que foi Jesus mesmo quem reconheceu sua dimensão psicológica quando empregou a palavra grega psichê (alma) para descrever o que ocorria no seu interior quando agonizava no Getsêmani. Jesus, portanto, teve consciência de suas emoções quando externou em diferentes momentos de sua vida sentimentos de alegria e tristeza. “Então, chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar. E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito. Então, lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até à morte; ficai aqui e vigiai comigo” (Mt 26.36-38).

Por outro lado, observa Nichols, Jesus também tinha consciência de sua dimensão espiritual. Lucas nos informa que Jesus mesmo usou o termo grego pneuma, traduzido em português como espírito, quando expirou na cruz do calvário (Lc 23.46). Nichols destaca que no contexto do evangelho de Lucas, a palavra “espírito” (pneuma) sem sombra de dúvidas indica a dimensão da existência humana que continuará na eternidade depois da morte. Esse é um fato relevante porque demonstra que foi como um ser humano, de carne e osso, que Jesus morreu. [1]

Como todo menino judeu de sua época, Jesus tinha o seu intelecto treinado pelo estudo das Sagradas Letras (2Tm 3.15).

2. JESUS E AS EMOÇÕES.
LC 20.26 As palavras do Senhor evidenciam o equilíbrio correto entre o dever e a obrigação perante as autoridades e perante Deus. A segunda parte da frase constitui uma fundamentação da primeira, contendo ao mesmo tempo uma restrição, o limite correto da obediência.

Os ardilosos interrogadores que pretendiam armar uma cilada para o Senhor foram cabalmente dispersos por meio dessa resposta sucinta, porém sábia. Todos os sinóticos relatam a admiração dos interrogadores que se patenteou em seguida. [8]

Quando pressionado, Jesus não cedia à pressão do grupo (Jo 8.1-11). Seus próprios algozes reconheceram que Ele agia movido por suas convicções internas e não pelo que os outros achavam (Lc 20.19-26). Sua presença revelava serenidade e paz (Jo 14.27; Lc 7.50). É evidente que essa paz era uma consequência natural da íntima comunhão com Deus que Ele cultivava. Jesus passava horas em oração, às vezes, até mesmo noites inteiras em oração (Lc 6.12), um claro exemplo para todos os seus seguidores.


IV-JESUS CRESCEU ESPIRITUALMENTE
1. CRESCENDO NA GRAÇA E FORTALECENDO O ESPÍRITO.
Destaca ainda esses autores que Jesus assumiu estes condicionamentos lá onde pesam mais, isto é, no meio dos pobres (2 Co 8.9; Mt 13.55; Fp 2.6,7; Hb 4.15; 5.8). Ele se formou “crescendo em sabedoria, tamanho e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2.52). Estes três aspectos do crescimento em sabedoria, tamanho e graça se misturam entre si. 
Crescer em sabedoria é assimilar os conhecimentos da experiência humana diária, acumulada ao longo dos séculos nas tradições e costumes do povo. Isso se aprende convivendo na comunidade natural do povoado.
Crescer em tamanho é nascer pequeno, crescer aos poucos e tornar-se adulto. E o processo de todo ser humano, com suas alegrias e tristezas, amores e raivas, descobertas e frustrações. Isto se aprende convivendo na família com os pais, os avós, os irmãos e as irmãs, com os tios e tias, sobrinhos e sobrinhas.
Crescer em graça é descobrir a presença de Deus na vida, a sua ação em tudo que acontece, o seu chamado ao longo dos anos da vida, a vocação, a semente de Deus na raiz do próprio ser. Isto se aprende na comunidade de fé, nas celebrações, na família, no silêncio, na contemplação, na oração, na luta de cada dia, nas contradições da vida e, em tantas outras oportunidades”. [1]

Nos dois textos bíblicos citados por Lucas para se referir ao crescimento de Jesus Cristo, o homem perfeito, a palavra “graça” se destaca (Lc 2.40,52). A palavra grega traduzida como graça é charis. Graça é um favor de Deus.

2. JESUS E SUA MAIORIDADE.
Capacitado pelo Espírito
Desde o primeiro capítulo deste livro chamo a atenção para a teologia carismática de Lucas. Jesus foi capacitado pelo Espírito Santo para realizar as obras de Deus. Talvez em nenhum outro ponto ela é mais clara quanto no contexto da kenosis de nosso Senhor. Jesus como homem, vivendo as limitações que a encarnação lhe proporcionou, dependeu durante todo o seu ministério da ação do Espírito Santo. Esse é um fato observado por todos os manuais de teologia sistemática.

Heber Campos, por exemplo, destaca que o Filho, em si mesmo, não precisava de suporte ou da ajuda do Espírito Santo, mas quando o Verbo se fez carne, assumindo a nossa humanidade, ele se colocou na condição de Servo necessitando do socorro do Espírito Santo para exercer o seu ministério. Por essa razão, citando a passagem de Isaías 61, Jesus diz de si mesmo: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos” (Lc 4.18). Jesus precisou, por causa de sua humanidade, do suporte do Espírito Santo para realizar o seu ministério. Deus não quebra as suas leis nem mesmo com o seu Filho. Ao encarnar, Ele se tornou como um de nós, carente da ação do Alto para poder realizar sua missão entre os homens. [1]

 Lucas mostra o desenvolvimento espiritual em duas outras passagens do seu Evangelho (Lc 2.46-49). Na situação do Templo, Jesus se mostra como alguém que já tem consciência da sua missão. Ele veio para cuidar dos negócios de seu Pai, Deus. Por outro lado, Lucas mostra no relato do batismo de Jesus como Ele se identifica com o povo e recebe a capacitação divina para o exercício do seu ministério (Lc 3.21-23).

Até os trinta anos, Jesus permaneceu na cidade de Nazaré e trabalhou como carpinteiro. O Salvador esperou pacientemente até o momento determinado pelo Pai para exercer seu ministério. Vivemos em uma sociedade imediatista; por isso, atualmente, as pessoas não querem esperar o tempo de Deus em suas vidas e ministério. O tempo do Senhor é perfeito. Temos que esperar o seu agir.

Ao escrever a sua segunda carta, o apóstolo Pedro exortou os cristãos a desejarem o crescimento: “Antes, crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A Ele seja dada a glória, assim agora como no dia da eternidade. Amém!” (2Pe 3.18). O alvo do crente é o crescimento. Mas esse crescimento não acontece de qualquer forma; antes, ocorre nas esferas da graça e do conhecimento do Senhor. Crescimento sem conhecimento é uma deformação, assim como o é, também, o crescimento sem a graça.

O cristão deve atentar para o fato de que onde se privilegia apenas o conhecimento intelectual, sem a adição da graça, o levará a uma vida árida. Da mesma forma, esse mesmo crescimento, onde se privilegia apenas a revelação e menospreza a razão, o conduzirá ao fanatismo. O crente deve, a exemplo do seu Senhor, crescer de forma integral.


SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Com a idade de 12 anos, um menino judeu se torna ‘filho da lei’. Nesse momento, ele aceita os deveres e obrigações religiosas aos quais os pais o entregaram pelo rito da circuncisão. Para Jesus, isto acontece quando seus pais sobem a Jerusalém para celebrar a Páscoa. O Antigo Testamento ordenava que a pessoa do sexo masculino comparecesse em Jerusalém para três festas: a Páscoa, o Pentecostes e os Tabernáculos (Êx 23.14-17). A dispersão dos judeus pelo mundo tornou impossível que todos fizessem isto nos dias de José e Maria. Apesar da distância, os judeus devotos faziam a jornada pelo menos uma vez por ano para a Páscoa. Não era exigido que as mulheres comparecessem, contudo, muitas iam” (Comentário Bíblico Pentecostal. 1ª Edição. Volume 1. RJ: CPAD, 2009, p.331).

Fonte: http://aquieuaprendi.blogspot.com.br/2015/04/a-infancia-de-jesus-jesus-o-homem.html

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